O que é Yoga?
Na minha formação como instrutora de Hatha Yoga, tive muitos bons professores, um deles nos apresentou a mais bela e honesta definição para Yoga: “É um estado especial que a mente humana pode atingir” quem disse isso foi uma das maiores referências em Yoga no Brasil, o professor Marcos Rojo.
Não é fácil definir o Yoga, pois é uma prática que abrange toda uma filosofia de vida, mas esta síntese de Rojo serve para reforçar a ideia de que se trata de uma atividade (mesmo que demande posturas físicas e até mesmo de conduta) com um objetivo mental.
Há registros milenares de possíveis práticas meditativas. No período pré-védico – 3000 a.C foram encontrados sinetes de argila com pinturas que demonstram pessoas sentadas em forma do que chamamos “postura de meditação”. No período védico 1500/1200 a.C com os Vedas temos escritos sobre concentração mental e assentamento do corpo. De lá para cá ainda temos importantes textos como as Upanishads e o Bhagavad Gita, mas no período Clássico – 200 a.C. surgiu a mais completa referência sobre teoria e prática do Yoga: os Yoga Sutras de Patanjali.
Sutras são versos, Patanjali sintetizou, em 196 versos, e 8 passos, ensinamentos sobre como alcançar, de forma gradual, um estado mais puro e elevado da mente, o “Samadhi”. O primeiro passo é chamado de “Yama” e está relacionado a algumas auto-restrições (não ser violento, não mentir, não roubar, não ser possessivo e não desvalorizar a energia sexual), a partir deste comportamento com o mundo, o praticante passa para o próximo passo, chamado de “Niyama” que está relacionado a alguns auto-cuidados (pureza (física e mental), contentamento, austeridade, auto estudo e devoção). Só depois desses dois passos iniciais e fundamentais é que a pessoa poderia começar a praticar ásanas, as atualmente populares posturas do Hatha Yoga.
Na sequência, Patanjali faz referência aos Pranayamas, que superficialmente podemos apresentar como pausas respiratórias. Por ter relação direta com o sistema nervoso, o controle respiratório é uma técnica importante para os próximos quatro “passos”, pois aí chegam as partes meditativas.
As “etapas meditativas” são: abstração dos sentidos, concentração, meditação e consciência plena. É delicado traduzir e mesmo diferenciá-las de forma sistemática, principalmente para a mente ocidental, excessivamente lógica e concreta, e o mais importante, sem uma herança de experiências meditativas regulares próximas. Pedindo licença a Patanjali, podemos trazer que o princípio básico é o desenvolvimento da percepção do próprio corpo e se houver, de algo além disso. Enquanto a meditação é realizada, há um aquietamento mental, que também relaxa o corpo de uma forma completa.
“O yogi era um cientista, seu corpo era seu laboratório, suas experiências eram observadas com profundidade, mas diferente do mundo acadêmico, guardavam o resultado dos seus estudos para si e para seus discípulos” Alícia Souto em A essência do Hatha Yoga.
Após este magnífico legado de Patanjali, entre os anos 1000 e 1700 d.C houve o aparecimento de uma nova corrente chamada Hatha Yoga a partir de literaturas importantes como o Hatha Pradipika, Gheranda Samhita, Shiva Samhita e Goraksha Shataka, incluindo técnicas mais elaboradas e específicas com ásanas e pranayamas (já citados), mas também categorizando práticas mais sutis como mudras, bandhas e kriyas, que a grosso modo, podemos definir como gestos, contrações musculares e exercícios de limpeza.
Dando um salto em séculos, em 1883, na Índia, nasceu o Swami Kuvalayananda, que fundou a Escola de Kaivalyadhama em 1924, também na Índia, inspirado em uma reflexão de seu mestre Paramahamsa Madhavas, que disse “A antiga ciência do Yoga não é apenas para a Índia, mas é a grande contribuição dos antigos rishis para toda a humanidade. Para que continue trazendo benefícios para a sociedade, sua divulgação não deverá acontecer na antiga linguagem tradicional. Assim, se o Yoga deve continuar é para que seja benéfico para toda a humanidade e esses benefícios deverão ser comprovados decisivamente, usando métodos aplicados nas ciências ocidentais.”
Na Escola de Kaivalyadhama, há pesquisas científicas relacionadas aos benefícios das práticas de Yoga, onde o próprio Gandhi foi atraído e realizou “consultas” sobre a prática de Hatha Yoga para melhorar a sua saúde fragilizada.
Na contemporaneidade, em estúdios de Hatha Yoga, sobretudo em locais com a cultura ocidental, é mais comum que se trabalhe essencialmente com ásanas, que tem como tradução literal “postura”. Os ásanas caracterizam-se pela permanência na imobilidade, que teoricamente deve ser estável e confortável, segundo Patanjali. É fundamental lembrar desta definição, pois o muito que se vê são pessoas que se dizem praticantes de Yoga, fazendo posturas visivelmente instáveis e desconfortáveis.
Quando compreendemos o real objetivo do Yoga, entendemos que esta não é uma atividade física, mesmo usando o corpo, pois percebemos que o “como” você realiza cada postura (com presença, atenção e todos os yamas e niyamas) é infinitamente superior ao “quanto” você realiza a postura, pensando em “performance física”. Ou seja, o Yoga não é “para” o corpo, mas “através” do corpo.
“Yoga é a paralisação dos turbilhões da mente” Patanjali.
Monique Meirelles